POETAS DE CONGONHAS

Vicente Aladim dos Santos

Nasceu em 15/03/43. Trabalhou durante 10 anos na CSN e foi diretor da Escola Estadual Mascarenhas de Moraes, em Juiz de Fora. Morreu aos 40 anos, em 07/01/84, deixando esposa Creuza Coelho e filhos Alessandra, Alex e Alélia, e muita saudade naqueles que o conheceram. O poema abaixo foi retirado do livro "Poemas do Cotidiano", editado em 1984.

Nascer de um poema

Há um poema nascendo em mim.
Gestação de coisas, ânsia na ponta do digo.
Embrião de arte ulula e cresce...
Há um poema nascendo em mim.
Matéria desfiada em contas,
emoção conta-de-lágrima.
Ave-Maria pingada na igreja,
vôo de pássaro - fio de prata.
Luz e sombra - densas matas.
Goteiras pingam - festa em lata...
Há um poema nascendo em mim.

 

 

Anonimato

Há poemas de nenhum poeta
numerados por nenhum Pitágoras.
Um quadro de nehum Picasso
e estátua de nenhum Aleijadinho.
Há uma página estranha.
no museu sem nome.
Na saída do edifício
há um túmulo:
"Aqui jaz
o autor anônimo
que acabais de conhecer".

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Joaquim Cordeiro Filho

Mora hoje em São Paulo, fazendo sucesso com peças de teatro. O poema abaixo foi retirado do livro "Morangotango - Poemeus ou exercício de ridículorimas", editado em 1987.

Meu universo é gente

Meu universo é gente
e de gente eu me alimento
sentindo gostos profundos
por vezes até nauseantes,
levando minha razão
prás raias do esquecimento. Gosto de todo tipo,
de todo tipo de gente,
gente magra, escura, feia,
gente clara, gorda, atraente. Cada qual tem uma serventia,
observemos prá ver:
há gente prá gente olhar,
há gente prá gente rir,
há gente prá gente gostar,
há gente prá gente partir,
há gente prá gente beijar,
há gente prá gente esconder,
há gente prá gente mostrar,
há gente prá gente comer;
prá triturar e engolir,
ouvindo escorregar por dentro
e bem devagarinho sentir
o gozo daquele momento. Mas essa gente é perigosa,
você sabe bem porque;
se começamos por dar-lhe uma rosa,
de outra não quer nem saber.
Vai embora como se nada houvesse
entre nós acontecido
e ficamos tristes, magoados, exaustos,
quando não prá sempre esquecidos.
              Mas há uma gente especial
que, queiramos ou não, permanece
ainda que não tenhamos
tocado-lhe sequer a fronte,
roçado-lhe sequer os pêlos,
beijado-lhe sequer os lábios,
ou mirado o mesmo horizonte. Com esse tipo de gente
é bom também se precaver,
pois faz-nos sentir preguiça,
tontura e indisposição,
sintomas esses comuns
de uma fulminante paixão. Ainda que isso aconteça
por um processo 'normal',
problema algum aparece
de cunho ou de ordem legal.
Mas ai de nós se se vem à tona
que não é bem dela que gostamos,
que não é bem ele que faz nosso tipo,
que nunca, sequer nos amamos,
que mantemos, sim, as aparências,
embora nem todos enganamos;
ai sim estamos perdidos
pois nos condenamos,
mesmo afirmando: sou moderno,
cabeça feita, liberal;
pagaremos muito mais caro
em papel-moeda-moral.
Esse não desgruda nunca
quando se fala de gente
e por isso é que pra muita gente
ah, como gente faz mal!

Um conselho descartável da culinária antropofágica: GENTE FAZ BEM A SAÚDE!

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